A morte parece ter a capacidade de nos fazer sentir em absoluto estado de desamparo. É uma solidão irremediável que desata o fio da memória.
Recordo-me como Scliar foi decisivo na minha escolha pela medicina. Conheci sua obra lendo “A face oculta”. Um livro com uma coletânea de quase 500 crônicas veiculadas na imprensa na década de 90 em que os bastidores da prática médica são narrados com uma verdade crua, um humor leve e uma poesia sutil capazes de deixar encantado qualquer jovem indeciso quanto ao futuro profissional. Comigo, não foi diferente.
Recordo-me como Scliar foi decisivo na minha escolha pela medicina. Conheci sua obra lendo “A face oculta”. Um livro com uma coletânea de quase 500 crônicas veiculadas na imprensa na década de 90 em que os bastidores da prática médica são narrados com uma verdade crua, um humor leve e uma poesia sutil capazes de deixar encantado qualquer jovem indeciso quanto ao futuro profissional. Comigo, não foi diferente.
O escritor-médico esteve comigo no cursinho. Repousava serenamente sobre a minha mesinha de cabeceira quando, à noite, visitava-me alimentando meu sonho distante. Era como se a leitura descompromissada valesse por uma sessão de massagem. Uma espécie de convite ao corpo para descansar das monótonas horas de estudo. Ele também esteve presente no meu primeiro ano de faculdade me ajudando a acalmar meus dilemas e a cumprir meu doloroso e particular ritual de passagem pela anatomia.
Em 2008, tive o prazer de vê-lo em Uberlândia na 1ª Festa Literária da cidade. Falava do seu livro o “Mistério da Casa Verde”, uma belíssima releitura de “O Alienista” de Machado de Assis. Conversava sobre sua arte como algo trivial enquanto eu, na ponta dos pés, o via lá do fundo da sala sem estar totalmente ciente do quanto vivenciava um momento raro. Naquele instante, me peguei novamente divagando sobre a possibilidade de conciliar os rumos da medicina com a poesia, ambas em passos iniciantes.
Ainda bem que o autor tem o poder de aliviar a saudade dos leitores pelo atemporalidade de sua obra. Consolo-me relendo a frase que, um dia, ajudou-me a encaminhar minha escolha profissional:
Conto “Rito de iniciação”, extraído do livro “ A face oculta”, 2001, p.22“... a medicina não é uma profissão. É uma forma de viver, à qual não se chega sem uma profunda transformação pessoal; sem dolorosos, mas salutares, ritos de iniciação.”
Fica aqui o convite para conhecê-lo melhor. Aos que já o conhecem que revisitem sua obra.